Eleições Presidenciais: o debate que agradeço não ter visto
Não vi o debate entre António José Seguro e André Ventura. E, sinceramente, sinto que devo agradecer a mim próprio por essa benção inesperada. Há quem veja debates políticos como exercício cívico; eu vejo-os como testes de resistência mental. E com estes dois, o risco de danos permanentes era grande.
Comecemos por Seguro, que conseguiu a proeza de tropeçar numa pergunta infantil: “É socialista?” Uma pergunta tão simples que até um aluno do 5.º ano conseguiria responder — mas não ele. Afinal, depois de décadas colado ao Partido Socialista, de cargos, congressos, palmadas nas costas e jantares partidários, declarar-se socialista agora seria… inoportuno? Incómodo? Ou apenas demasiado honesto para o momento? Mistério.
Do outro lado, temos Ventura, o eterno gladiador do populismo, que concorre a umas eleições que diz ter “aceitado contrariado”. Quase dá vontade de lhe enviar um ramo de flores pela coragem de fazer algo que, aparentemente, não queria. Um verdadeiro mártir da televisão portuguesa. Só faltou aparecer com uma t-shirt a dizer “Estou aqui contra a minha vontade”.
E claro, quando fala, não deixa ninguém mais fazê-lo. Debater com o profascista Ventura é como tentar ler um livro num concerto de heavy metal: possível, tecnicamente, mas só para quem desistiu de ter paz de espírito. O debate transforma-se sempre na mesma coisa — uma feira algarvia em hora de ponta, com ele a atropelar, interromper e berrar como se o volume substituísse argumentos.
Se este é o grande momento democrático da campanha, ainda bem que poupei 60 minutos da minha vida. Vi coisa melhor: o nada. E o nada, ao contrário deles, não interrompe ninguém.