Footprints - Praia do Castelejo, Vila do Bispo, Algarve

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Passo a passo

 Passo a passo, o equilíbrio volta


Hoje, na sessão de fisioterapia, voltei a enfrentar um daqueles desafios que parecem simples quando os ouvimos, mas exigem coragem quando os fazemos: trabalhar a coordenação dos reflexos e o equilíbrio.

Não é apenas um exercício físico — é um teste silencioso à nossa determinação.


A fisioterapeuta pediu-me para fixar o olhar num ponto e manter-me firme. No primeiro segundo, o corpo hesitou… mas continuei. E, naquele instante, percebi algo importante: não é a força que nos mantém de pé, é a persistência.


Vieram depois os exercícios rápidos — tocar aqui, reagir ali, ajustar o passo, procurar o centro outra vez. Cada movimento era uma conversa entre mim e o meu corpo:

"Consegues? Vamos tentar mais uma vez."


E, pouco a pouco, consegui.

Houve desequilíbrios, claro. Mas também houve momentos em


que senti o corpo responder melhor, mais desperto, mais alinhado. E isso bastou para me lembrar que o progresso raramente é ruidoso — acontece nos pequenos acertos que quase ninguém vê.


No final da sessão, saí cansado, mas orgulhoso.

Porque hoje provei a mim mesmo que, mesmo quando parece que o chão se mexe, eu continuo a avançar.


A fisioterapia ensina-nos exatamente isso: que cada treino é mais do que recuperar movimento — é recuperar confiança, recuperar presença, recuperar força interior.

E, sessão após sessão, vou construindo algo maior do que equilíbrio: vou construindo o meu regresso.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

Seguro vs André

 Eleições Presidenciais: o debate que agradeço não ter visto


Não vi o debate entre António José Seguro e André Ventura. E, sinceramente, sinto que devo agradecer a mim próprio por essa benção inesperada. Há quem veja debates políticos como exercício cívico; eu vejo-os como testes de resistência mental. E com estes dois, o risco de danos permanentes era grande.


Comecemos por Seguro, que conseguiu a proeza de tropeçar numa pergunta infantil: “É socialista?” Uma pergunta tão simples que até um aluno do 5.º ano conseguiria responder — mas não ele. Afinal, depois de décadas colado ao Partido Socialista, de cargos, congressos, palmadas nas costas e jantares partidários, declarar-se socialista agora seria… inoportuno? Incómodo? Ou apenas demasiado honesto para o momento? Mistério.


Do outro lado, temos Ventura, o eterno gladiador do populismo, que concorre a umas eleições que diz ter “aceitado contrariado”. Quase dá vontade de lhe enviar um ramo de flores pela coragem de fazer algo que, aparentemente, não queria. Um verdadeiro mártir da televisão portuguesa. Só faltou aparecer com uma t-shirt a dizer “Estou aqui contra a minha vontade”.


E claro, quando fala, não deixa ninguém mais fazê-lo. Debater com o profascista Ventura é como tentar ler um livro num concerto de heavy metal: possível, tecnicamente, mas só para quem desistiu de ter paz de espírito. O debate transforma-se sempre na mesma coisa — uma feira algarvia em hora de ponta, com ele a atropelar, interromper e berrar como se o volume substituísse argumentos.


Se este é o grande momento democrático da campanha, ainda bem que poupei 60 minutos da minha vida. Vi coisa melhor: o nada. E o nada, ao contrário deles, não interrompe ninguém.

domingo, 2 de novembro de 2025

O Messias de plástico


André Ventura quer ser presidente.
Presidente de quê, é que ninguém sabe.
Talvez do próprio espelho — onde passa mais tempo do que em qualquer debate de ideias.

Vende-se como salvador da pátria, mas o produto é contrabando moral. Populismo de feira, embrulhado em gritos e promessas tão ocas como a sua indignação de palco.

Diz que combate o sistema, mas vive dele. Um parasita de luxo com discurso de mártir. Fala de moral enquanto se alimenta da raiva, do medo e da ignorância que tão bem cultiva.

Ventura não quer mudar o país.
Quer um trono com microfone.
E o mais triste? Há quem o aplauda.

Acreditam que é revolução.
Mas é só mais um espetáculo de circo — e o palhaço continua convencido que é rei.

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

O tempo pergunta ao tempo



O Tempo pergunta ao Tempo

O tempo pergunta ao tempo
se ainda lhe resta tempo para sentir.
O tempo, cansado, sorri —
já não mede minutos,
mede esquecimentos.

Há séculos que se persegue,
que se dobra sobre o próprio eco,
contando os passos que nunca deu.

E nós, pobres de horas,
pedimos ao tempo clemência,
como quem pede ao vento
que não leve o último suspiro.

Mas o tempo não responde —
ele é o silêncio depois da pergunta.

A literatura morreu

 A literatura morreu — e ninguém deu por isso


A literatura, essa velha senhora que outrora fumava cigarros na mesa dos cafés e falava com ironia e febre, agora vive num lar de influencers. Está penteada, higienizada, domesticada. Publica-se como quem posta. Lê-se como quem desliza o polegar — sem deixar marcas, sem sujar as mãos.


Os escritores de hoje parecem mais preocupados com a capa do que com a carne. Querem prémios, likes e entrevistas, mas fogem do abismo — e o abismo é o único lugar onde a literatura realmente acontece. António Lobo Antunes continua lá, teimoso, a escavar com frases que sangram; o resto escreve frases que piscam.


As editoras falam em “conteúdos”, os leitores em “produtos”, e todos parecem satisfeitos com esta troca de dignidade por algoritmo. A literatura deixou de ser uma ferida para ser um filtro. E o mais triste é que já ninguém se queixa da infecção — preferem o efeito.


O problema não é que se leia pouco. É que se lê mal. E o mal de leitura é mais perigoso que o analfabetismo: produz gente convencida de que compreendeu o mundo porque o viu resumido num carrossel do Instagram.


Mas talvez ainda haja esperança — se houver quem leia Lobo Antunes sem medo, quem aceite perder-se numa frase que não termina, quem ainda prefira o incómodo ao conforto. Porque a literatura não precisa de salvação. Precisa de leitores que se deixem queimar.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

FOTOS MINHAS


 photo: Rogério Barroso. Foto nº. 4975 - Garça Branca.


Genocidio en Palestina

El 9 de diciembre de 1948, hace hoy, exactamente, 76 años, la ONU aprobó el texto del Convenio para la Prevención y Sanción del delito de Genocidio a través de la Resolución 206 de la Asamblea General. Dos años antes el genocidio fue considerado por Naciones Unidas como un crimen que debía ser perseguido a nivel internacional. 

Pero ¿qué se entiende por genocidio? Tal y como apuntó el Sr Lemkin, abogado que acuñó este término, el genocidio no implica necesariamente la destrucción total de un grupo nacional, religioso o étnico. Lo que caracteriza, fundamentalmente, al crimen de genocidio es la existencia de un plan coordinado y sistemático de acciones encaminadas a destruir los fundamentos esenciales de la vida de un grupo determinado de seres humanos.

Si tenemos en cuenta las declaraciones publicas realizadas por Hagari, el portavoz del ejercito israelí, al periódico The Guardian el 10 de octubre de 2023: “Nuestro objetivo es causar el mayor daño posible”; o las del exministro de Defensa, Yoav Gallant, publicadas el mismo día en el rotativo The Times of Israel: “Gaza nunca volverá a ser lo que era. Lo eliminaremos todo”; incluso las del propio Presidente de Israel tres días después: “No hay civiles inocentes en Gaza”, entenderemos perfectamente cuál es su objetivo. Como puede observarse, nítidamente, sus explícitas intenciones coinciden exactamente con la descripción del crimen de genocidio tal como se redactó en 1948. 


FOTOS MINHAS


 photo: Rogério Barroso. Foto nº. 4974 - Percurso Ribeirinho de Loures.

Celebremos a Noam Chomsky, el gigante intelectual y moral

Es difícil imaginar un mundo sin Noam Chomsky. Durante más de sesenta años, fue el intelectual de izquierdas más visible y prolífico del planeta. Apenas hay un rincón del mundo donde sus escritos y su incansable lucha por la justicia no hayan tocado la vida de la gente.

Una vez mi madre estaba sentada en un café de una pequeña ciudad del Midwest estadounidense conversando con una amiga sobre él, cuando alguien a dos mesas de distancia se volvió hacia ella y le preguntó: «Perdone, ¿está hablando de Noam Chomsky?». Y con ello, una conversación bidireccional se convirtió en comunitaria, en la que personas que hace unos momentos eran completos desconocidos formaban ahora un vínculo instantáneo. Solo ha habido un puñado de intelectuales en la historia moderna con este tipo de alcance, este tipo de resonancia para millones y millones de personas.