vendo aí na calçada esses meninos - desde o bem garotinho ao quase moço – que mal ouviram o bater dos sinos "ALELUIA" anunciando, logo, num alvoroço, foram batendo e sovando, foram malhando o boneco de pano - pobre simulação de um ser humano – que oscilando, enforcado, estivera num poste pendurado. Eu pensei em Você, Vida malvada, vendo essa garotada erguer as mãos em gestos maus, gritar, correr, pular, e às gargalhadas, com varas, pedras, paus, bater, puxar e dar pancadas até estracinhar, e deixar em farrapos, molambo só, o pobre Judas Karioth. Eu pensei em Você, Vida malvada, vendo essa criançada, depois de tanta bulha e correria, depois de tanto grito triunfante, vir em silêncio, exausta, o peito arfante, sem mais um assobio para a forca vazia, e se assentar no meio fio, compreendendo, sentindo que o cansaço para tão grande afã foi prêmio escasso. Eu pensei em Você, Vida malvada, e em seus males que – turba alucinada – num horrendo martírio, a correr, a correr em desatino, em tumulto e delírio, na rua de meu Destino, estão ferindo, batendo, estão quebrando, despedaçando meu pobre coração, para deixá-lo em farrapos como o de Judas de trapos arrastado no chão. Eu pensei em Você, Vida malvada, que me aflige e me fere despiedada, pois seus males, assim como os meninos, - os grandes e também os pequeninos – hão de cansar, hão de parar na sua corrida louca, vendo que, embora o coração quebrado, batido e dilacerado, uma queixa não sai de minha boca. E o meu silêncio, Vida, é glória escassa para o seu doido anseio de desgraça! Foi por isso que, olhando a garotada, eu pensei em Você, Vida malvada. Graciette Salmon (Poetisa Paranaense) |
Footprints - Praia do Castelejo, Vila do Bispo, Algarve
terça-feira, 14 de agosto de 2012
VIDA MALVADA
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