Os equívocos e as omissões parecem ter carta-de-alforria na sociedade portuguesa. Vive-se do aspecto, tudo aparentemente "natural", porque as nebulosas não são esclarecidas, e os comentadores que tinham obrigação de as clarificar não o fazem por incompetência, porque são estipendiados ou por medo. Se é preciso coragem para ser velho, como diz a Isaura, para ser velho em Portugal a coragem terá de ser dupla ou tripla.
Há pouco tempo, o Dr. Cavaco afirmou que não havia motivos para os clientes do BES terem sobressaltos. O vulcão já estava activo e, de certeza, muita gente sabia o que se passava no subsolo. O desmoronar do império financeiro foi, pelos vistos e ouvidos, um espanto para o Dr. Cavaco, cuja tranquila persuasão encaminhara milhares de portugueses para os abismos da desgraça.
Veio agora o pobre homem dizer à puridade que ninguém, nem Governo, nem os sábios com que se rodeia, nem o governador do Banco de Portugal, lhe chamara a atenção para o ruído vulcânico já pressentido. A inépcia do Dr. Cavaco, que, em certa ocasião, declarou não perder tempo a ler jornais, e raramente se enganava, tem, como testemunho histórico, a farsa em que vive e nos obriga a viver.
A sua ignorância, neste gravíssimo caso, e o silêncio ou as frases dúbias com que a ele se refere é mais um triste e nefasto episódio da tragédia portuguesa. Um Presidente deste género, um Governo tal assim, uma comunicação social que se perdeu em devaneios líricos, e que converteu em fazedores de opinião umas criaturas que não estão ali para explicar (como dizia o Chacrinha no Brasil) mas para complicar, deviam ser apontados à execração e alvitrados como delinquentes de lesa-pátria.
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