Footprints - Praia do Castelejo, Vila do Bispo, Algarve

quarta-feira, 9 de julho de 2014

A dignidade e a decência

O dr. Cavaco e o dr. Passos ignoraram, com ostensivo desagrado, o Grammy atribuído a Carlos do Carmo. O País regozijou-se com o prémio ao grande cantor, na alegria de quem vê recompensado um dos seus. As acções ficam com quem as pratica, e envolvem, habitualmente, a pessoa individual. Porém, neste caso, atingem as instituições que aqueles dois senhoritos transitoriamente representam. O dr. Cavaco e o dr. Passos, em si mesmos, são irrelevantes: mas as duas presidências, a da República e a do Conselho de Ministros, não o são. Corporizam o Estado e as normas que o constituem. Carlos do Carmo tem criticado, com a veemência que lhe assiste, mas com a elegância que o qualifica, a acção daqueles que tais. Sentiram-se atingidos, pessoalmente, mas não o foram, institucionalmente, reagindo, rancorosos e minúsculos, com a birra da omissão. Não é, apenas, feio: o acto é odioso porque revela a dimensão do carácter medíocre de duas pessoas, infensas à crítica e demasiado cheias de si próprias para sequer admitirem os reparos de quem tem por dever assumir a cidadania.
A dignidade das funções exigiria, de qualquer dos que tais, um sinal de grandeza; e a decência, constante na ética, imporia um assomo de civilidade. Nesta triste omissão reside um vestígio de autoritarismo insuportável. Autoritarismo, aliás, frequentemente demonstrado por ambos os comparsas. O dr. Cavaco excomunga quem não afine pelo seu diapasão, caso, entre demais, da perseguição sórdida a José Saramago; e o dr. Passos expurga quem o afronte: neste assunto, o dr. António Capucho. Mas há mais: a lista das exclusões praticadas pela parelha, além das morais, é de molde a deixar com espasmos no esófago o mais desentendido de todos nós.

Sem comentários:

Enviar um comentário