A cabou a recessão!", exclamaram, cheios de alegria e tolejo, jornais, rádios e televisões. Ninguém explicou nada a ninguém, e o bulício de regozijo pegou-se. Nos corredores dos ministérios, nas farmácias, nos quartéis, no edifício majestoso onde funciona a Galp, no bloco operatório de Os Lusíadas, o murmúrio adquiriu formas de clamor: "Acabou a recessão!" E Paulo Portas, que gosta de dizer coisas, falou e disse, entre enlevado e libidinoso: "Vai começar um novo ciclo!", sorriu e caminhou, lépido, para o gabinete onde congemina.
Para quem acabou a recessão?, e quais os benefícios que traz ao milhão de desempregados; aos milhares de famílias que recorrem ao Banco Alimentar e à Cáritas para comer; aos reformados e pensionistas, esbulhados dos magríssimos proventos; aos 25 mil casais sem emprego; aos milhares de miúdos que vão para a escola com o estômago vazio; aos cem mil jovens portugueses que abandonaram a pátria porque a pátria é lugar de infortúnio; aos velhos que morrem sozinhos sem ninguém dar por isso, ou espantados de medo nos caixotes de vivos para aonde são enviados por quem os não quer - para quem e para quê?
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