11 de Fevereiro de 1990 surge-nos hoje como uma data distante - naquele dia, Nelson Mandela dava os seus primeiros passos em liberdade depois de 27 anos de um castigo que ilustra bem o absurdo e a violência a que o poder ainda sujeita aqueles que lutam contra a sua injustiça. Chega a ser engraçado como o momento em que uma injustiça foi corrigida é testemunhado como um milagre. Ao ver Mandela sair da prisão, o mundo terá dado a si a liberdade de sonhar a mudança, acreditar que há uma outra natureza humana, e que no fim nem sempre prevalece a desigualdade que anima as piores formas de poder.
Vinte e três anos depois, Mandela morre e, se a sua memória há-de embalar "os melhores anjos da nossa natureza", em poucos momentos o mundo se terá sentido tão órfão de um exemplo que pudesse despertá-lo para a mudança que o primeiro presidente negro da África do Sul teve a lucidez de sonhar.
Muitos terão imaginado que com o século xxi e na era da globalização, os vários modelos tribais em que a humanidade se divide, do nacionalismo à religião, da raça, cor e sobretudo do poder económico, acabariam por se diluir num mundo em que as distâncias e o tempo foram relativizados e que permanece em constante comunicação. Evidentemente, isso não se passou. As antigas divisões são hoje mais claras do que nunca e o poder parece cada vez mais permeável a elas.
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