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quarta-feira, 4 de junho de 2014

As derivas

A crise no PS talvez servisse para aclarar a natureza daquele partido e definir, ideologicamente, o que ele representa, ou quer representar. Não creio que isso vá acontecer. O PS, desde a fundação, anda numa deriva, não apenas doutrinária como de carácter político. Aliou-se ao CDS, ao PSD, criou um "centrão" indefinido e uma rede inextrincável de interesses que invoca, constantemente, para justificar os seus processos e a racionalização das escolhas orçamentais.
Teve, por escasso tempo, um estribilho: "Partido Socialista / Partido Marxista", o punho esquerdo cerrado, e a afirmação de que se destinava a construir uma sociedade fraterna e, naturalmente, sem classes. A referência a um qualquer bem comum e o desiderato de modificar o mundo para alterar a vida "correspondiam ao ar do tempo", como futilmente "esclareceu" um dos fundadores, para justificar as flutuações do partido. Enfim: as coisas são como são, e até o PPD, actual PSD, afinou pelo mesmo diapasão, chegando, mesmo, os seus militantes a tratar-se, amorosamente, por "camaradas."
Esta crise no PS, outra das muitas, resulta dessa ambiguidade ideológica, a que os prosélitos mais conhecidos dissimulam com a retórica da "pluralidade". Afinal, que é ser "socialista"?, num universo dominado pelas leis do "mercado" e por um capitalismo desregularizado (como se o capitalismo alguma vez se deixou ou deixasse "regularizar"). A resposta só pode ser dúbia, porque a própria característica das sociedades se tornou confusa. Mas chegar-se ao ponto em que o étimo "socialismo" foi deliberadamente confrontado com as incertezas trabalhadas pelo adversário, aí, tudo muda de figura. É verdade que não foi o pobre Seguro o único responsável por tal mixurafada. Mas foi ele, acaso por ignorância, acaso por tola ambição, quem transformou o PS num decalque do PSD, sem ninguém saber, realmente, o que é, hoje, o PSD, se alguma vez se soube.

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