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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O mal-amado

A derrota de António José Seguro, pela extensão e pelo número, configurou o escorraçar de um mal-amado e o desfazer de um equívoco. A política do secretário-geral do PS (ou, melhor, a falta dela) para enfrentar e combater a agenda do PSD; os indícios fornecidos pelas grandes manifestações populares; as decisões do Governo, cada vez mais autoritário e infenso aos clamores e às angústias da população, tudo isso exigiam uma disposição, uma coragem e, sobretudo, uma força moral de que Seguro não dispunha.
As suas intervenções, no Parlamento e fora dele, a falsa desenvoltura e o oculto embaraço; a miséria de uma retórica que personalizava tudo com um "eu quero" enfático, haviam feito deste homem obsoleto a caricatura de um político a sério. Adicione-se a estas falhas as deficiências de carácter, reveladas logo após a queda de Sócrates, que apenas por pudor não insisto em relembrar.
Durante a campanha assistimos à simpatia com que Seguro era tratado por elementos do Governo, e por comentadores e jornalistas estipendiados, e ao mal dissimulado desdém destes por António Costa. Sem esquecer as afirmações do Marcelo e do Marques Mendes, os quais entendiam que uma vitória de Seguro seria mais benévola para Passos Coelho. Penso que as coisas não são assim tão distendidas entre Costa e Seguro, mas o primeiro provém de outra cultura ideológica, de outra família política e de predicados consolidados em lutas antigas e nobres. Um legado nada despiciendo.

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