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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

"A TAP é minha"


Um senhor do Governo veio dizer--nos que a privatização da TAP estava prevista desde o começo desta legislatura. O senhor do Governo (eles são tantos, que se torna difícil decorar-lhes os nomes) tem olhos de peixe morto e voz compulsiva: isto para melhor o identificar. Os protestos da Oposição atingiram a zona do confronto verbal mais tempestuoso. Desde "traição" ao abandono das nossas grandes empresas ao "capital financeiro multinacional", ouviu-se de tudo. A paixão sublinhou as intervenções, percebendo-se que a TAP não é assunto neutro, nem, apenas, mais uma companhia entregue à voracidade da ‘globalização’ que tem beneficiado, unicamente, os grandes interesses. A ‘globalização’, aliás, não é, só, o prolongamento do capitalismo; é a imposição de uma alternativa de contra-governo; seja: a ausência de decisões nacionais, em favor de uma ordenança específica. Os governos ficariam desprovidos das possibilidades de escolha, regulados pelas leis do mercado, afinal comandados pela alta finança. E a União Europeia mais não é do que uma hipótese da continuidade das ideias que formaram este poder absorvente que nos submete com absorção. A privatização da TAP pertence a esse projecto de controlo global. O Governo fala da inevitabilidade da venda. António Costa, por exemplo, entre muitos mais, desmente essa inevitabilidade, agitando o princípio de que a TAP é uma companhia "de bandeira", definição assaz enigmática. Viajei, durante toda a vida, com aquela companhia, possuo um indisfarçável sentimento de posse, sei o que ela representa para os portugueses lá de fora. A TAP não é unicamente uma empresa vendível ao sabor das circunstâncias, um negócio banal: é um estado d’alma, uma emoção, um pequeno orgulho e a módica vaidade que nos resta.


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